quarta-feira, março 21, 2012

A L M A D I N A - D I A D O P A I

Por: Sheikh Aminuddin Mohamad - 19.03.2012 

Tornou-se habitual nos últimos anos a comemoração do chamado “Dia do Pai”, a 19 de Março em  algumas partes do mundo como no Brasil que se comemora no segundo domingo de Agosto.

O Isslam não atribui nenhuma relevância a este tipo de comemorações inventadas pelo Homem - Dia da Mulher; Dia do Trabalhador; Dia do Pai; Dia do Idoso, Dia do Deficiente, Dia da Criança, etc., etc. 

Todavia, reconhece o valor intrínseco à mulher, ao pai, ao trabalhador, ao idoso, ao deficiente, à criança, etc. 

Por isso considera todos os dias como Dia do pai e Dia da Mãe, contrariamente a muitas tradições em que os velhos pais são atirados nos chamados “Lares de Idosos” onde apesar de alguns cuidados que lhes são prestados pelas freiras ou outras pessoas treinadas, os próprios filhos e familiares não os visitam regularmente para lhes dar um pouco do seu calor, do seu amor, do seu afeto. 

Por vezes esses pais morrem no isolamento e anonimato, e os familiares só tomam conhecimento passados dias ou mesmo semanas, quando já em decomposição. E depois vêm com a ironia do Dia do Pai ou Dia da Mãe, levando-lhes, uma vez por ano, um buquêt de flores ou alguns presentes, achando assim que já cumpriram com o seu dever de filhos. 

No Isslam, o direito dos pais vem logo a seguir ao de Deus. E é por isso que o Profeta Muhammad S.A.W. diz: “A satisfação de Deus está na satisfação dos pais, e a insatisfação de Deus está na insatisfação dos Pais”. (At-Tirmizi) 

E disse o Profeta S.A.W.: “Os pais são a porta do meio do Paraíso, cabendo a ti cuidá-la ou perdê-la”. 

É indescritível o amor de um pai para com o seus filho. Ele sacrifica toda a sua vida, anda de um lado ao outro para conseguir ganhar algo com que possa alimentar e educar o seu filho. Sacrifica o seu bem estar e conforto, em benefício do bem estar e conforto do filho. E mais. Pode até vir a sacrificar a sua própria vida em benefício do filho. Tudo isto fá-lo com muito gosto e muito amor, e não com o intuito de obter qualquer retribuição. 

Por isso o Isslam ordena-nos que tratemos com bondade os nossos pais, ainda que eles tenham cometido algum erro contra nós. Só não se lhes deve obediência nenhuma quando Deus estiver a ser desobedecido. 

Aliás, a obediência e bom trato a que eles têm direito acima dos filhos, não se circunscreve apenas a uma determinada idade ou tempo, pois isso é obrigatório a todo o momento e em qualquer fase da sua idade, muito em particular quando algum dos progenitores estiver numa fase de dependência e carecer de cuidados por parte dos filhos. Nessa fase, qualquer desinteresse ou negligência por parte dos filhos pode revelar-se bastante doloroso. 

Para além disso, quando o pai ou a mãe já tiverem atingido a velhice, por vezes tornam-se irascíveis, irritando-se muito facilmente, o que é natural. E quando já estão muito velhos, a sua lucidez também começa a diminuir, e aí por vezes fazem exigências algo difíceis de satisfazer. Por isso o Al-Qur’án ordena-nos que nesses momentos difíceis das suas vidas sejamos mais gentis e pacientes, lembrando-nos o quão generosos e pacientíssimos eles foram para conosco quando éramos pequeninos, quando éramos piores do que eles nesta sua fase. Portanto, mesmo assim eles sacrificaram o seu sossego para nos prestarem os maiores e os melhores cuidados, e dentro do que se se lhes oferecia na altura, tentaram satisfazer as nossas exigências infantis com muito amor, pelo que devemos ter isso em conta, pagando-lhes o bem, com o bem. 

Os filhos não devem ter gestos que revelem zanga ou azedume para com os seus pais. Devem mostrar-se humildes perante eles, demonstrando misericórdia, orando (fazendo duã) a seu favor, dizendo: 

“Ó meu Senhor! Tende pena deles assim como eles me fizeram crescer desde pequenino”. (Al-Qur’án) 

Ainda que o pai ou a mãe não sejam muçulmanos, deve-se-lhes respeito e bom trato. 

Há muitos pais que passam privações, mendigando, quando os seus filhos vivem uma vida estável. Esses filhos são os piores ingratos. 

Certa vez, no tempo do Profeta Muhammad, S.A.W., um jovem dirigiu-se-lhe, apresentando uma queixa contra seu pai: “O meu pai apodera-se do meu dinheiro”! 

O Profeta mandou chamar o pai para se inteirar do que se passava. Entretanto o Arcanjo Gabriel apareceu junto ao Profeta, dizendo-lhe: “Quando o pai chegar, pergunta-lhe quais são as palavras que ele estava a pronunciar no seu coração, que nem os seus ouvidos escutaram”. 

Quando o tal jovem voltou acompanhado do pai, o Profeta S.A.W. indagou-o sobre o que se estava a passar, pois o seu filho queixara-se contra si. Perguntou por que razão ele se apoderava do dinheiro do filho, ao que o velho pai respondeu: “Pergunte-lhe onde é que gasto esse dinheiro, senão sobre mim ou nas suas tias”. 

Então o Profeta S.A.W. disse: “Pronto, já entendi, já não precisas de dizer mais nada”! 

A seguir, dirigindo-se ao velho pai, disse: “Quais são as palavras que o teu coração pronunciou, que nem os teus ouvidos conseguiram escutar”? 

O velho pai respondeu: “Ó Mensageiro de Deus! Em todos os assuntos Deus faz com que a nossa fé aumente mais, pois aquilo que ninguém ouviu, como é que tu soubeste? Isso é um milagre”! Depois acrescentou: “ De fato eu disse alguns poemas no meu coração, que nem os meus ouvidos escutaram”. 

O Profeta S.A.W. disse: “Leia esses poemas para eu também ouvir”! 

Então o velho pai disse na forma de poema: 

“Eu alimentei-te quando eras pequenino e tomei a tua responsabilidade mesmo quando eras jovem; 

Quando à noite alguma doença te atingia, eu passava toda a noite na intranquilidade por causa da tua doença; 

Como se fosse eu que estava doente e não tu, enquanto eu sabia que a morte tem um dia fixo, não pode adiantar, nem atrasar. 

Depois, quando tu chegaste à idade por que eu ansiava, começaste a pagar-me com rispidez e com palavras duras, como se tu, e só tu me prestasses favores. 

Seria bom, se não consegues cumprir para comigo o direito de pai, pelo menos procedesses como procede um vizinho nobre, e pelo menos me concedesses o direito de boa vizinhança, e não fosses sovina na minha riqueza, mesmo a meu favor”. (Al-Qurtubi

Depois de ouvir estas palavras em forma de poema, o Profeta S.A.W. pegou no filho e disse: “Tu e a tua riqueza pertencem ao teu pai”. 

Hoje em dia, muitos filhos maltratam os seus pais, faltam-lhes com a consideração que lhes é devida, e quando se lhes referem, ao invés de dizerem “o pai”, dizem “o velho”, o que detestável. Filhos com esse tipo de carácter sujeitam-se a pagar por tudo isso, ainda aqui no Mundo, pois quando atingirem a velhice, os seus filhos também lhes tratarão da mesma maneira. O Profeta Muhammad S.A.W. disse: “Todos os pecados serão pagos no Outro Mundo, excepto os maus tratos infligidos aos pais. Isso, o filho irá pagar aqui, neste Mundo”. 

É o provérbio popular: Aqui se faz aqui se paga!

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