sexta-feira, novembro 02, 2012

Congresso dos Professores de História - Portugal - Discurso do Irmão Abdul Rahman Mangá

Assalamo Aleikum Warahmatulah Wabarakatuhu (Com a Paz, a Misericórdia e as Bênçãos de Deus) Bismilahir Rahmani Rahim (Em nome de Deus o Beneficente e Misericordioso)  JUMA MUBARAK

Para esta semana, segue o teor do discurso proferido por Sua Eminência Sheikh Abdul Rahaman Mangá, Presidente do Centro Cultural Islâmico do Porto (Portugal), no dia 5 de Outubro de 2012, no congresso dos Professores de História, que se realizou na cidade de Guimarães – Portugal, no âmbito da “Capital Europeia da Cultura”. O tema debatido foi a “Contribuição das minorias para a construção da identidade nacional”. É um assunto que se adapta em qualquer país, onde os muçulmanos constituem a minoria. Vejam na íntegra o conteúdo da mensagem,
“MINHAS SENHORAS, MEUS SENHORES, ASSALAMO ALEIKUM! Esta é a saudação dos muçulmanos, que significa – QUE A PAZ DE DEUS ESTEJA CONVOSCO. Utilizamos esta expressão, para saudarmos os nossos irmãos de fé e não só. Saudamos tantas vezes quantas as que encontrarmos com o mesmo irmão ou irmã, no mesmo dia. É uma forma de aumentarmos a harmonia e a amizade entre nós.

Quando Deus, o Altíssimo, criou Adão, que a Paz de Deus esteja com ele, disse-lhe: "Dirige-te aos anjos que estão sentados acolá e atenta para o modo como te vão saudar, pois será também o modo de saudares a tua descendência". Adão se aproximou dos anjos e disse: "A Paz esteja convosco!". E eles responderam: "A Paz e a Misericórdia de Deus estejam contigo!".

O significado desta belíssima manifestação de harmonia e de irmandade, foi desvirtuada e deu origem no nosso país, ao termo "Salamaleque", cujo significado é a mesura exagerada, fazer reverências a fim de se conseguir o que se deseja, ou saudação interesseira. É por isso que em Portugal se diz "deixa de salamaleques", quando alguém exagera nas palavras interesseiras.

Em nome do Centro Cultural Islâmico do Porto, agradeço à Associação de Professores de História o convite que me foi endereçado para falar acerca da participação dos muçulmanos residentes em Portugal, na construção da identidade nacional.

Aproveito a oportunidade para saudar o berço da nação, a cidade de Guimarães, em especial pela celebração da Capital Europeia da Cultura e pelos inúmeros eventos culturais que vêm sendo realizados.

Durante os anos cinquenta, D. Sebastião Soares Resende, o primeiro Bispo da Beira, segunda cidade de Moçambique, preconizava, em defesa dos desfavorecidos, um ensino igual para todos, quer fossem indígenas, indianos, mestiços ou europeus. As relações laborais então desenvolvidas pelos empregadores, defendiam que os negros estavam destinados ao trabalho mais pesado. Para alterar esta situação, o Bispo não encontrou muitos aliados dentro da igreja católica e muito menos no governo central colonial. O então ministro do ultramar, Dr. Adriano Moreira, a quem saúdo pelos seus 90 anos, compreendeu os anseios do Bispo e em 1961, acabou com o estatuto do indigenato, que impedia a maioria das populações das províncias ultramarinas de adquirem a nacionalidade portuguesa e do direito à educação. Com a influência das preocupações do Bispo D. Sebastião, em Agosto de 1962 são criados os Estudos Gerais de Moçambique e Angola para instauração do ensino técnico, politécnico e superior. Em 1962 foi fundada em Lourenço Marques a primeira universidade, tendo como reitor o Dr. Veiga Simão. Foi assim possível juntar, na mesma sala de aulas, alunos de todas as cores, ávidos da procura de conhecimentos técnicos, que permitissem melhorar as condições precárias em que se encontravam com as suas famílias.

Antes de Portugal viver a época da globalização, nas suas ex-colônias, nomeadamente em Moçambique, vivia-se uma diversidade cultural e religiosa, com a multiplicidade de cores, raças e religiões. Os antigos colonos foram para Moçambique à procura de melhores condições de vida. Moçambique também recebeu imigrantes dos 3 estados indianos outrora pertencentes a Portugal, Goa Damão e Diu. Muitos deles constituíram famílias, casando com as nativas, dando origem a filhos mestiços. A coexistência pacífica entre as diversas raças, culturas e  religiões, fazia inveja aos nossos vizinhos Sul-Africanos, cujo povo sofria da segregação racial.

Apesar das facilidades de acesso ao ensino em Moçambique, de acordo com as capacidades financeiras de cada um, alguns jovens muçulmanos, de origem indiana, por volta dos anos sessenta, preferiram fazer o trajecto contrário ao dos colonos, emigrando para a capital do império, à procura das melhores universidades. Acabaram por cá ficar, dando origem às primeiras famílias de muçulmanos em Portugal. Em 1968, o referido grupo de estudantes, cria a Comunidade Islâmica de Lisboa (CIL).

Com a independência de Moçambique, muitos muçulmanos, na maioria de origem indiana, abandonaram Moçambique, acabando por escolher Portugal como destino privilegiado. A eles juntaram-se os refugiados da Guiné Bissau, a pretexto de terem sido militares Portugueses, e, por tal, sujeitos às perseguições pelos seus conterrâneos.

Os Moçambicanos e os Guineenses foram os primeiros percursores da Comunidade Islâmica em Portugal. Sentiram dificuldades que foram surgindo ao longo dos anos, nomeadamente a discriminação nas escolas e nos empregos. Os portugueses, habituados ao catolicismo, desconfiavam destes imigrantes que traziam com eles uma religião diferente. Porque os recém chegados tinham em comum a língua Portuguesa e porque estavam habituados a conviver nas suas terras de origem, com outras raças, religiões e culturas, a desconfiança foi-se desvanecendo, dando lugar ao diálogo. Eles obtiveram a nacionalidade Portuguesa, por direito.

O serviço militar obrigatório cumprido pelos muçulmanos, durante as guerras de libertação nas antigas colónias, a par de outros sentimentos, aumentou o sentimento da identidade, nacional.

Apesar de se terem passado muitos anos, ainda estão nas nossas mentes os momentos vividos nas longas batalhas em que muitos voltaram marcados definitivamente e outros perderem a vida.

Com a globalização, a Comunidade Islâmica viu alargada a diversidade de raças e nacionalidades. Vindos dos países árabes, de África, da India, do Paquistão do Bangladesh, da Turquia e dos países próximos da União Soviética, a diversidade linguística e cultural aumentou, mas todos professando a mesma religião, de que não há outra divindade senão Deus e que Muhammad é Seu último mensageiro. Uma multiplicidade de culturas, que confunde muitas vezes os menos atentos, levando-os a pensar que muitos dos usos e costumes fazem parte dos rituais da religião islâmica.

A vinda destes novos imigrantes trouxe problemas acrescidos à nossa integração como minoria. As línguas de origem dificultavam-lhes a integração, a escolarização das crianças e também a obtenção de empregos. A discriminação e a desconfiança voltaram a sentir-se, pois a visibilidade era maior, devido aos usos e costumes, ao vestuário e aos diferentes idiomas que se ouviam em todos os locais. Foi necessário organizarem-se aulas de Português, tanto para os adultos como para os mais novos. Graças ao apoio de diversas associações, foi possível colmatar esta situação.

Com muitos anos de trabalho e de permanência no país, alguns imigrantes conseguiram obter a nacionalidade Portuguesa e acabaram por solicitar o agrupamento familiar.

A procura das melhores condições de vida levou a que muitos muçulmanos se espalhassem pelo país, deixando Lisboa de ser a cidade principal de acolhimento. Nas novas localidades para onde foram viver, tiveram o cuidado de ficar perto uns dos outros ou de procurar alojamento perto dos locais de culto. A proximidade das mesquitas torna-se importante para que as 5 orações diárias possam ser efetuadas, de preferência em congregação. A logística, para que os filhos possam continuar a aprender as bases da religião, é também outro fator determinante para as concentrações. Outro aspecto não menos importante é o da existência de um talho que forneça alimentos halal, isto é, carne de animais abatidos em nome de Deus, o Único, e devidamente sangrados.

A partir dos anos oitenta, com alguma curiosidade, os residentes das cidades do Porto e de Vila Nova de Gaia começaram a assistir à chegada dos muçulmanos. Com o aumento dos crentes e com a Comunidade Islâmica de Lisboa distante, os residentes optaram por criar uma associação, a que deram o nome de Centro Cultural Islâmico do Porto, Pessoa Colectiva Religiosa, a qual se encontra devidamente autorizada e registada. Para além das atividades religiosas e sociais, esta associação é também responsável pelo diálogo inter-religioso a nível do norte do país.

A par dos outros países europeus, Portugal, com a independência das suas colônias e com a globalização, começou a viver uma nova realidade, alterando o conceito de nacionalidade assente nos pilares da religião católica. Portugal adaptou-se a este multiculturalismo, sem grandes sobressaltos. Três importantes factores contribuíram para este sucesso: i) a comunidade muçulmana ser constituída maioritariamente por crentes oriundos de Moçambique e da Guiné Bissau; ii) Terem em comum a língua Portuguesa; iii) Os dirigentes e os responsáveis religiosos das comunidades serem maioritariamente compostos por quadros, empresários e clérigos integrados na sociedade portuguesa. Mas ainda há muito caminho a percorrer, apesar dos passos que já foram dados para a liberdade religiosa. Ainda nos encontramos longe da igualdade de tratamento.

Sem deixarem de praticar a religião e de procurarem manter as heranças culturais, a maioria dos muçulmanos a viver em Portugal sente que está inserida na sociedade, trabalhando e contribuindo para o engrandecimento do País. Os da primeira geração, mesmo os mais conservadores em termos religiosos e culturais, com todas as dificuldades econômicas e financeiras, deram aos filhos a possibilidade de estudarem e tirarem cursos técnicos ou superiores, de acordo com as suas capacidades financeiras. Concluídos os cursos e as especializações, são hoje gestores e técnicos conceituados no nosso meio empresarial. O Profeta Muhammad, que a Paz de Deus esteja com ele, encorajou-nos a procurar o conhecimento, nem que tenhamos de viajar até à china. Jesus, que a Paz de Deus esteja com ele, também Profeta e Mensageiro do Islão, referiu: “Deus gosta que os Seus servos aprendam um ofício que os torne independentes”. Relato de Abu Bakr Ibn Abi al-Dunya.

Os pais alertam sempre os seus filhos para que a integração na sociedade portuguesa não seja causadora da perda dos valores morais e religiosos e da conservação das raízes culturais.

Os mais jovens sabem que fazem parte da identidade portuguesa, apesar de algumas vezes se sentirem discriminados na sociedade e no mercado de trabalho. Fazem parte de todas as profissões, advogados, contabilistas, economistas, médicos e também comerciantes e trabalhadores da construção civil.

Em Portugal, a palavra “emigrar” está agora na moda. Os jovens muçulmanos sentem também dificuldades na obtenção de empregos e procuram colocações noutros países. Outros sentem a discriminação por causa da religião e pelos nomes que outros dizem ser difícil de pronunciar.

No entanto, os responsáveis das comunidades continuam a encorajar os seus membros para continuarem a colaborar para que Portugal possa ultrapassar a crise em que se encontra.

Somos também Portugueses e a nós também compete participar no desenvolvimento do país.

Mas nem tudo corre bem, porque alguns crentes, principalmente por motivos econômicos, não conseguiram que os seus filhos adquirissem a escolarização necessária, arma importante para a luta contra a pobreza e contra o obscurantismo. Um dos 5 pilares do Islão é o Zakat, a contribuição para os mais necessitados. Os muçulmanos são como um corpo, quando um membro se encontra doente, todo o corpo se ressente. Com as verbas recolhidas, os responsáveis das comunidades procuram atenuar os flagelos da fome e incentivam os mais velhos para não descurarem os benefícios da escolarização. Compete ao Estado, melhorar as condições, para que todos os seus cidadãos, em especial as crianças, possam beneficiar de acesso à formação escolar. É também responsabilidade do Estado dar especial atenção aos que se encontram marginalizados, vivendo em condições de extrema pobreza, dando-lhes a possibilidade de tirarem cursos técnicos. Não gostaríamos de ver os nossos jovens cometerem actos de violência, por se sentirem duplamente revoltados, para além da pobreza, por se considerarem marginalizados por questões de cor, raça e religião. Não só me refiro à comunidade muçulmana, mas a todos os que, vivendo em Portugal, se encontram nestas condições. Se nada for melhorado, este mal poderá continuar nas gerações seguintes, acabando os lesados por se manifestarem fora dos limites prescritos pela lei e pelos ensinamentos religiosos. Com a agravante que outros olhos possam confundir estas manifestações de desagrado com o fundamentalismo. A jihad é o esforço no caminho de Deus.

A jihad pode ser o esforço de um crente, na procura de conhecimentos escolares, com vista à obtenção de melhores condições de vida para si e para os seus. Neste caso particular, a melhor jihad é não ter medo de, cara a cara, proferir uma palavra justa, perante um governante injusto.

Vários estudos, efctuados pelas universidades europeias, referem que é a religião islâmica a que mais está a crescer em todo o mundo. Dentro de 5 a 6 décadas, na Europa, os muçulmanos constituirão a maioria. O referido crescimento não se limita aos nascimentos. Só em França, os convertidos ao Islão, já ultrapassam os 100.000. Alguns nacionalismos advogam o regresso da pureza da raça. Continuam as provocações, a pretexto da liberdade de expressão, uma conquista importante da democracia. Mas não podemos utilizar insultos nem ultrapassar os limites, onde começam os direitos dos outros. Alguns muçulmanos, contrários aos ensinamentos religiosos, manifestam-se duma forma violenta, acendendo ainda mais a fogueira da discórdia. Esquecem-se de que o Profeta Muhammad, quando foi provocado e agredido, nunca respondeu com violência, mas sempre esperançado de que os seus agressores renunciariam à idolatria e se voltariam para Deus.

Às provocações que lemos na imprensa local, exercemos os nossos direitos de resposta, enviando artigos com esclarecimentos e o nosso ponto de vista. Salvo raras excepções, na maioria das vezes, os nossos artigos não são publicados. Parafraseando um ditado popular, só é notícia relevante quando um muçulmano morde um cão.

Todas estas situações são preocupantes, porque perspectivam um futuro cheio de intolerância.

A solução para esta incerteza é o de estimular e criar condições para que os jovens, de todos os quadrantes sociais e religiosos, possam aceder à educação, ao convívio e ao conhecimento mútuo. A pobreza não pode ser um entrave para a escolarização. Os governos deverão criar um protocolo com as comunidades islâmicas para que incrementem e incentivem a escolarização dos mais necessitados. Podem ter medo dos homens, mas não tenham medo do Islão.

A Escola Básica da Comunidade Islâmica de Palmela, conhecida por Colégio Islâmico de Palmela, funciona como uma escola oficial reconhecida e acompanhada pelo Ministério da Educação. A par da formação religiosa, os alunos são preparados para ascenderem às universidades se assim o desejarem. O respeito, a responsabilidade e a disciplina, são os três princípios que regem esta instituição de ensino, procurada não só pelos muçulmanos, como também por outros credos. No ranking das melhores escolas, vem obtendo as melhores classificações. Com cerca de 200 estudantes, nas horas reservadas à religião, os alunos de outros credos, são ocupados com apoio extra-escolar. O exemplo desta Escola Básica, deveria estender-se às principais cidades do país.

Em Portugal, os muçulmanos vivem em paz com os seus vizinhos, professam a religião e procuram com tolerância dissipar as informações erradas transmitidas pela comunicação social. Para isso, os responsáveis da comunidade islâmica, tanto no Centro/Sul como no Norte, vêm desenvolvendo trabalhos de divulgação junto às escolas, universidades e associações, com vista à explicação dos fundamentos da religião islâmica, para que também percebam que o islão não tem nada a ver com as manifestações violentas e com os atentados em nome da religião. A violência é própria de qualquer ser humano, independentemente da sua filiação religiosa, quando não consegue controlar os seus instintos maléficos.

A existência de várias culturas e religiões é sinónimo de que não vivemos a sós neste mundo.

Uma só cultura e uma só religião, seria uma monotonia, como se todos estivéssemos vestidos de amarelo. A diversidade de cores, de costumes, da comida e do vestuário, aguçam a curiosidade para conhecermos o que é diferente e encoraja-nos a viajar por recantos mais longínquos e desconhecidos. Aprendemos sempre algo de novo com outras culturas. Lembro-me duma passagem que me foi contada por um professor de história, nos meus tempos de estudante em Lourenço Marques, hoje Maputo. Estava Camões doente, às portas da morte e com vontade de fumar um cigarro. Deitado na cama, com dificuldades em mover-se, pediu ao seu empregado africano, para lhe acender um cigarro. O empregado retirou-se do quarto e dirigiu-se à fogueira, na palma da mão esquerda colocou areia para não se queimar e, com a ajuda de um pau, colocou uma pequena brasa, que permitiu a Camões acender o cigarro.

Agradecido, Camões exclamou: “mesmo às portas da morte, estamos sempre a aprender”.

É importante conhecermos o próximo. Com tolerância mútua, criarmos um diálogo honesto, a fim de encontrarmos a paz e a tranquilidade. Só assim continuaremos a construir um Portugal melhor para os nossos filhos e para as gerações vindouras. Cabe às associações de todos os quadrantes darem os passos necessários para a concretização destes objetivos, promovendo debates e sessões de esclarecimento para os seus membros e abertos a toda a população. É de louvar o trabalho já desenvolvido por algumas associações, que promovem diversos encontros, para difusão da arte, literatura e cultura em geral. Também de louvar, a preocupação dos professores de história e de religião e moral para darem aos seus alunos o conhecimento de outras religiões, promovendo visitas e encontros nas sinagogas, mesquitas e outros templos.

O nosso local de culto na cidade do Porto, é visitado anualmente, por cerca de 1.000 alunos do ensino secundário, no âmbito das disciplinas de história e de religião e moral. Nas referidas visitas, de duração de cerca de quarenta e cinco minutos, os alunos são informados dos diversos aspectos ligados aos fundamentos e ao culto islâmico.

Portugal está a redescobrir o arabismo, um importante contributo para o enriquecimento da língua e cultura portuguesas. Os muçulmanos, durante o período da ocupação, deixaram um valioso legado histórico, cultural e arquitectónico. O antigo termo português “Albaraque”, que significa bênção, gentileza, é a palavra bem típica que simboliza o convívio, tão importante para cimentar o encontro entre culturas. A cozinha alentejana foi influenciada pela cozinha árabe, com muitos sabores mediterrânicos. O rei poeta Al-Mutamid,  nasceu em Beja, foi rei de Silves e do Sul de Espanha. Os legados árabes em Mértola e Beja, os reservatórios de água em Silves e as antigas mesquitas transformadas em igrejas, lembram a presença dos muçulmanos nos séculos anteriores. No vocabulário Português, existem cerca de 600 palavras com origem no Árabe, como por exemplo algarve, alfinete, algarismo azeitona, laranja e azeite.

Um termo muito utilizado na língua Portuguesa, o “OXALÁ”, tem origem no árabe “IN SHA ALLHA”, se Deus quiser.

Aproveito a oportunidade para em nome do Centro Cultural Islâmico do Porto, da Comunidade Islâmica de Lisboa e das diversas associações das minorias muçulmanas, apresentar a todos os congressistas e a todos os associados, os meus sinceros votos da continuação de um bom trabalho e que obtenham deste congresso as motivações necessárias para continuarem com maior empenho o vosso nobre trabalho, o de ensinar. Issa, Jesus, que a Paz de Deus esteja com ele, também Profeta do Islão referiu: “aquele que aprende, pratica e transmite sabedoria, será chamado grande no reino dos céus. Homem do saber, aprende da sabedoria o que não conheces e ensina ao ignorante o que aprendeste”. Relatos de Ahmad Ibn Hambal e de Abu Nu’ayn al-Isbahani. Que a Paz de Deus esteja com todos. 
Abdul Rehman Mangá .
05 de Outubro de 2012.”

terça-feira, outubro 30, 2012

Resumo do Sermão do EID ADHA(FESTA DO SACRIFÍCIO

Proferida pelo sheikh Othaman em 26/10/2012- Centro Islâmico de Brasília.

Em nome de Allah , O Clemente, O Misericordioso. Louvado Seja Allah , criador do céu e da terra. Nos recordamos e nos voltamos humildes a Allah (SWT), pedimos o Seu perdão e suplicamos a Sua misericórdia.

Testemunho que não há Divindade a não ser Allah (SWT), e testemunho que o Profeta Mohamed (SAAW) é seu servo e Mensageiro, o escolhido entre as criaturas. Aquele que divulgou a mensagem, zelou pelo que lhe foi confiado, aconselhou o povo, aboliu a injustiça e serviu em nome de Allah (SWT).

Que Allah (SWT) abençõe e de paz ao Profeta (SAAW), bem como para a sua família, companheiros e seguidores até o Dia do Juízo Final.

Este dia é o dia do Eid Adha, no dia do sacrifício(abate), é o dia do Hajj grande, este dia é um dia de prestígio do grande prestígio que o Profeta (SAAW) estabeleceu como uma tradição e para legitimar a Shariah para a Ummah que segue-o a tomar a partir dele e se agarrar a ele. Este é o dia de Nosso Senhor salvar Ismael(AS) de ser sacrificado, este é o dia em que a amizade é colocada á frente através da benevolência de Allah(SWT), Louvado Seja Allah, que nos fez seguidores de Muhammad(SAAW), ressuscitando sua Sunnah, segurando a Shariah,peregrinando em sua orientação e de pé por sua tradição

Hoje é o Eid Al Adha, que Allah aceita o esforços dos peregrinos, e de todos os muçulmanos e que não podem fazer esta viagem, com a intenção e vontade de cumprir o quinto pilar do islam. O Eid Al Adha marca o fim do Hajj, a peregrinação a Makkah, e acontece no décimo dia do último mês do calendário islâmico,o Dhul Hijjah.

O Eid Al Adha é celebrado em memória de Ibrahim(AS) que teria aceito sacrificar seu filho Ismael segundo uma ordem de Allah.

Ibrahim(AS) conversou com Allah(SWT) em um sonho, e Allah(SWT) disse para Ibrahim sacrificar aquilo que lhe era mais precioso e amado, e para o homem era seu filho, Ismail. Ibrahim então relatou ao seu filho a vontade de Allah(SWT), e este concordou com o sacrifício. Pelo caminho, Ibrahim foi tentado pelo Shaytan(satanás), que disse para desobedecer a Allah. Mas Ibrahim ignorou a tentação, e continuou a seguir a ordem de Allah(SWT).

Disse Allah(SWT) no Alcorão Sagrado na Surat AS-SAFFAT os vers 102 a 111: " Ó meu filho! Certamente que já vi em um sonho que eu deveria sacrificar você; considerar, então, o que você vê. Ele disse que de pai! Faça o que te foi ordenado; Se Deus quiser você vai encontrar-me de os pacientes. Então, quando ambos apresentaram as suas vontades (a Allah), e ele deitou-o prostrado em sua testa (para o sacrifício), nós o chamou" O Abraão! Já realizaste a visão "-! Assim de fato, recompensamos os benfeitores. Para isso era obviamente um julgamento. E Nós resgatamos com um sacrifício (carneiro) importante: E deixamos (esta bênção) para ele entre gerações (de vir) nos últimos tempos: "Paz e saudação a Abraão" Assim de fato, recompensamos aqueles que fazem direito, pois ele era um dos Nossos servos fiéis."

Não foi apenas seu filho que o profeta Ibrahim tinha o consentimento de, mas também sua esposa, Hajer (sa). Embora Satanás tentou levá-la para se opor Profeta Abraão sacrificar o seu filho, ela manteve-se firme atrás do marido e vontade de Allah(SWT). Disse Allah no Alcorão Sagrado na Surat AL-BAQARAH vers 124: “Lembre-se que Abraão foi posta à prova por seu Senhor, através de certos comandos, e ele cumpriu. (Allah) disse: "Eu estou nomeação que um imam para as pessoas." Ele disse: "E também os meus descendentes?" Ele disse: "Minha aliança não inclui os transgressores."

Esse versículo mostra como profeta Ibrahim (as) através de sua ação e seu sacrifício ganhou o status de Imam. Ele não só sacrificaria, mas também levantou um filho que está disposto a ser sacrificado.
Era a sua capacidade de criar um filho como Ismail, e obter o respeito a um ponto em que até mesmo sua esposa era solidário e pronto a segui-lo em sua liderança. Assim, no Eid al-Adha que celebramos o imenso sacrifício de nosso amado Profeta(SAAW) e Inshallah que podemos aprender com profeta Ibrahim e sua família, e aprender a dar e sacrificar nossas riquesas e almas, nossos desejos e nosso amor do mundo, conseguir a satisfação de Allah(SWT).

Todos os muçulmanos que possuem recursos econômicos devem sacrificar carneiros, em forma de relembrar o acontecimento.É condição obrigatória que o animal seja macho, adulto e saudável. A carne deste animal deve ser distribuída por familiares, vizinhos, amigos e pobres.
EID MUBARAK...EID ABENÇOADO

quinta-feira, outubro 25, 2012

Tema da Semana: O SACRIFÍCIO – CURBANI

Assalamo Aleikum Warahmatulah Wabarakatuhu (Com a Paz, a Misericórdia e as Bênçãos de Deus) Bismilahir Rahmani Rahim (Em nome de Deus o Beneficente e Misericordioso) JUMA MUBARAK

“Faça Salah (oração) para o teu Senhor e faça Curbani (Sacrifício)”. Cur’ane - Cap. 108 Vers.2 O Sacrifício – Curbani, é um dos rituais do Haj. Ibrahim (Aleihi Salam) – Abraão (Que a Paz de Deus esteja com ele) já muito velho, apesar de ser um grande Profeta, continuava a ser um ser humano e desejava ter um filho para dar continuidade à sua obra. Através de Hajra, a mulher africana e depois de muitos pedidos ao seu Senhor, Ele concedeu-lhe um filho chamado Issmail (Esmael) (que a Paz de Deus esteja com ele) - (nome que significa Deus escutou).

Allah, nosso Senhor e Criador, quis testar Ibrahim (Aleihi Salam). Ele era muito idoso e o filho ainda muito pequeno. Recebeu ordens para deixar o filho com a mãe no deserto. Ele cumpriu com as ordens do seu Senhor, conforme foi relatado na mensagem referente à Agua de Zam-Zam. Depois do filho crescer, Deus quis novamente testa-lo. Através de um sonho, Deus ordenou-lhe para sacrificar o seu próprio filho. Ibrahim (Aleihi Salam), servo de Deus, logo se prontificou para cumprir com a ordem.

Allah diz no Cur’ane: “E saibam que as vossas riquezas e os vossos filhos são um teste.” Cur’ane 64, Vers.115.

E Ibrahim (Aleihi Salam), resolveu partilhar a ordem recebida com o seu filho Issmail (Aleihi Salam), que já demonstrava dedicação às ordens divinas, pelo que não hesitou em afirmar “Se Allah quiser, encontrar-me-ás de entre os pacientes.” Cur’ane 37 Vers.102.

Deste modo, Ibrahim levou o seu filho para o sacrificar. Durante o percurso apareceu o chaitane (diabo) que lhe persuadiu de não cumprir com a ordem de Deus, lembrando-lhe que só depois de muito velho é que conseguiu ter um filho. Ibrahim (Aleihi Salam), atirou para o cheitane, 7 pedrinhas, que se afundou na terra. Esta tentativa do cheitane, para desviar a tenção do Profeta Ibrahim (Aleihi Salam), aconteceu por três vezes e por três vezes Ibrahim (Que a Paz de Deus esteja com ele), o repeliu.

Depois em Miná, a poucos quilómetros de Makka, quando se preparava para sacrificar o seu filho, Deus enviou um carneiro que foi sacrificado. Por isso, para manter viva a tradição de Ibrahim (Aleihi Salam), foi instituído que todo o muçulmano, após a oração do Idul Adhá (festa religiosa em comemoração do final da peregrinação a Makka), deve sacrificar um carneiro, uma vaca, um camelo, etc..Uma galinha não serve para o curbani. Um carneiro dá para uma pessoa e uma vaca para 7 pessoas. 

Jabir b. Abdullah (Radiyalahu an-hu) referiu: “No ano de Hudaibiya (6 da Hegira), nós, na companhia do Mensageiro de Deus, sacrificámos camelos para 7 pessoas e vaca para 7 pessoas”. Muslim. 

É recomendável que a carne seja distribuída em 3 partes iguais. Uma para seu consumo próprio, uma parte para os necessitados e outra parte para os amigos e vizinhos, de modo que todos  possam passar o dia de festa, convivendo em harmonia.

As palavras Hadiy e Curbani, referem-se a sacrifícios, mas efectuados em ocasiões e locais diferentes. O Hadiy é feito exclusivamente por aqueles que se encontram em peregrinação (Haj) em Miná. O Curbai (Udhiyah) é obrigação para todos os restantes muçulmanos, espalhados pelo mundo. Os pobres, estão dispensados desta obrigação.

O Hadiy é obrigatório para o Cárin e para o Mutamatti e faz parte de um dos rituais do Haj. O Haji Mufrid está dispensado. Existem outros rituais, nomeadamente; a) – Fazer Tawáf –circundar a Casa de Deus; b)- percorrer os montes Safa e Marwa, lembrando o que a mulher de Ibrahim sofreu para salvar o filho Issmail dos tormentos da sede; c)- atirar as pedrinhas (Ramyi) nos três locais onde Ibrahim foi tentado.

O Curbani é obrigatório para todo o muçulmano, adulto, financeiramente capaz. O Curbani pode ser  efectuado nos dias 10, 11 e 12 de Dhul Hijja. Mas é recomendável que seja efectuado no dia 10, dia de Ide, mas só depois da oração do Idul Adhá. Jundub Bin Sufyan Al Bajali referiu: “no tempo do Profeta Salalahu Aleihi Wassalam), oferecemos alguns animais como sacrifício. Depois de terminada a oração de Idul Adhá, verificou-se que alguns companheiros abateram os animais antes da oração, pelo que o Profeta disse: “Quem sacrificou os animais antes da oração, deverá fazer novos sacrifícios e quem ainda não o fez, o deverá fazer, invocando o nome de Deus”. – Bukari. Livro 67- hadice 408. O período para o sacrifício dos animais, termina no 12ª. dia do referido mês, ao pôr do sol.

Acerca deste dia de Idul-Adha, dia de festa, o Cur’ane refere a permissão de consumirmos a carne dos animais, os quais foram sacrificados com a invocação do nome de Deus: “…Comei, pois, dele e alimentai o indigente e o pobre”. 22.28.

O Curbani que é feito no dia de Idul Adhá, não tem nada a ver com os sacrifícios que alguns povos ainda fazem, invocando espíritos ou ídolos. “Deus vos proibiu carne de animais mortos (que morreram por si), o sangue, a carne de porco e o que foi imolado sob a invocação de qualquer outro nome, que não seja o de Deus…” 2.173. O Curbani é feito invocando o nome de Deus, lembrando o sacrifício do Profeta Ibrahim (Aleihi Salam) e para que todos, em especial os mais necessitados, possam ter alimentos suficientes para passarem o dia de Ide, dia de festa, em harmonia e em alegria. Abu Tufail referiu que perguntaram a Ali b. Abi Talib, para lhes informar algo que o Mensageiro de Deus lhe tenha dito em segredo. Ele respondeu: “Ele não me disse nada em segredo que não esteja ao alcance das pessoas. Mas eu ouvi ele dizer: “1- Deus amaldiçoou quem sacrificou em nome de alguém, em vez do nome de Deus. 2- Amaldiçoou aquele que acomodou uma inovação. 3- Deus amaldiçoou aquele que amaldiçoou os seus pais. 4- Deus amaldiçoou quem alterou a linha de fronteira (da terra que lhe pertence, não respeitando os direitos dos outros) 4.877 Muslim.

Certa vez os Sahabas - companheiros do Profeta (Radiyalahu an-huma), quiseram saber o significado do Curbani (Sacrifício) e o Profeta (Salalahu Aleihi Wassam) respondeu: “É Sunnat (tradição) do vosso pai Ibrahim.” Então eles perguntaram: “Que recompensa obteremos pelo sacrifício?. O Profeta (Salalahu Aleihi Wassalam) disse: “Por cada pêlo do animal, tereis uma recompensa.” Relato de Ibn Majah. O Mensageiro de Deus (Salalahu Aleihi Wassalam) fez o curbani durante todos os anos que permaneceu em Madina.

Oo residentes em Portugal, podem fazer o Curbani nas suas localidades. Para o efeito, devem contactar os talhos que habitualmente lhes fornecem a carne. Em alternativa, podem também mandar fazer o Curbani nos países de origem. Outra alternativa é entregar aos necessitados, a totalidade do produto resultante do curbani, nomeadamente às escolas frequentadas pelos alunos carenciados. Ali b. Abi Talib (Radiyalahu an-hu), referiu: “O Mensageiro de Deus o incumbiu na responsabilidade do sacrifício dos seus animais e ordenou-lhe para distribuir toda a carne e peles aos pobres e não  cabendo nada para o açougueiro, que foi pago pelo respectivo trabalho”. 3019 e 3022 Muslim.

Façam o favor de serem felizes, cumprindo com as vossas obrigações perante o nosso Criador. Não se esqueçam de também contribuírem para a felicidade das pessoas que vos rodeiam.

Cumprimentos - Abdul Rehman Mangá -25/10/2012

A PEREGRINAÇÃO DA DESPEDIDA

Quando o mês de Ramadan chegou, em 632, Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), resolveu, ele mesmo, dirigir o cerimonial da peregrinação. Ele saiu de Medina em 20 de fevereiro de 632, em direção a Makkah, seguido por uma imensa multidão de fiéis, alguns a pé e outros montados em camelos, numa fila que se perdia no horizonte.

A última peregrinação de Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), é de uma importância fundamental para todos os muçulmanos. Tudo o que ele fez nessa ocasião histórica foi posteriormente incorporado ao ritual que é seguido até os dias atuais. O seu sermão também é um legado para toda a humanidade, uma vez que trata de questões éticas e morais que devem nortear o comportamento dos seres humanos, independente de raça, cor, credo. 

Ele discursou para a multidão reunida e entre os vários pontos enfatizados estão os de que não se deve mentir, roubar, trair, cometer adultério, ingerir drogas, explorar quem quer que seja, isto é, os mesmos princípios morais trazidos por todos os mensageiros de Deus que o antecederam. 

Disse ainda a todos que a vida e a propriedade de todo muçulmano são responsabilidades sagradas; que não causassem dano a ninguém e que ninguém lhes causasse danos. E que a partir daquele momento não deveria haver exploração econômica e nem a prática da usura e sim a cooperação entre todos. 

Também disse que as mulheres deveriam ser tratadas com bondade, pois Deus as tinha confiado a seus maridos; que os homens tinham certos direitos sobre elas, mas que elas também tinham certos direitos sobre os homens. É uma via de duas mãos. Um complementa o outro, ao invés de serem adversários. 

Todo muçulmano é irmão de todos os muçulmanos. O orgulho da raça ou das origens era perverso e deveria ser abolido.

Ele também ensinou que toda a humanidade veio de Adão e Eva e que não há preferência de um árabe sobre um não árabe, ou de um não árabe sobre um árabe; de um negro sobre um branco ou de um branco sobre um negro. O melhor entre todos é o mais piedoso, o mais temente e o que é o melhor em caráter. 

Também disse que não viria outro apóstolo ou mensageiro depois dele e que havia deixado para os muçulmanos e para toda a humanidade, duas coisas, e que quem as seguisse jamais se desviaria: o Alcorão e a Sunnah.

Pediu a seus seguidores que levassem esta mensagem a todas as pessoas da terra. E assim eles o fizeram, percorrendo o mundo, principalmente como mercadores, professores, como pessoas que chegavam para partilhar sua experiência religiosa. E o Islam se espalhou pelo mundo, mais pela força do exemplo, da tolerância do que pela força da espada.

Cada detalhe do ritual foi indicado pelo Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), o ritual de atirar as pedras, o sacrifício de animais em Mina, as voltas em torno da Caaba e a vestimenta especial do peregrino. Ao final de seu sermão, Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), disse aos presentes, "eu não disse a vocês o que fazer e que completei minha missão?" Todos responderam em voz alta "Sim, por Deus que você o fez". A seguir, ele levantou os olhos para o céu e disse "Deus, dou o meu testemunho".

Por fim, ele se despediu dos peregrinos e voltou para Medina. Nunca mais ele veria Meca de novo. Essa peregrinação de Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), passou para a história muçulmana como a Peregrinação da Despedida.

O ÚLTIMO SERMÃO DO PROFETA MUHAMMAD

Após louvar e agradecer a Deus, ele disse:

"Ó gentes, ouvi-me atentamente porque não sei se estarei entre vós depois deste ano. Portanto, ouvi o que tenho a dizer com muita atenção e levai essas palavras àqueles que não puderam estar presentes aqui, hoje.

Ó gentes, da mesma forma que guardai este mês, este dia, esta cidade como sagrados, respeitai também a vida e propriedade de todo muçulmano, como uma responsabilidade sagrada. Devolvei os bens que vos foram confiados aos seus legítimos donos. Não feri ninguém porque assim ninguém vos ferirá. Lembrem-se de que verdadeiramente vós vos encontrareis com o vosso Senhor e que Ele ajustará as contas. Deus proibiu a usura (juros), portanto, todas as obrigações decorrentes de juros devem ser postas de lado. Vosso capital, no entanto, cabe a vós mantê-lo. Jamais imponhais e nem sofreis qualquer espécie de iniquidade. Deus sentenciou que não haverá juros e que todos os juros devidos a Abbas ibn 'Abd'al Muttalib (tio de Muhammad) serão anulados.

Cuidado com Satanás, para segurança de vossa religião. Ele perdeu toda a esperança de que pudesse desviar-vos das grandes coisas, portanto, cuidado para não segui-lo nas pequenas.

Ó gentes, é verdade que vós tendes certos direitos em relação a vossas mulheres, mas elas também têm direitos sobre vós. Lembrai-vos de que vós as tomastes por esposas na confiança de Deus e com a Sua permissão. Se elas forem fiéis então a elas pertence o direito de serem alimentadas e vestidas com bondade. Tratai suas mulheres bem e sejai gentis com elas porque elas são vossas parceiras e auxiliares comprometidas. E é vosso direito que elas não façam amizade com quem não aproveis, e que elas jamais sejam impuras.

Ó gentes, levai-me a sério, adorai Deus, fazei as cinco preces diárias (salat), jejuai no mês de Ramadan e distribui de vossos bens em Zakat. Fazei o Hajj (peregrinação) desde que possível.

Toda a humanidade provém de Adão e Eva, um árabe não é superior a um não árabe, nem um não árabe é superior a um árabe; o branco também não é superior ao negro, nem o negro tem qualquer superioridade sobre o branco, exceto quanto à justiça e aos bons atos. Saibei que todo muçulmano é um irmão de todo muçulmano e que os muçulmanos constituem uma irmandade. Nada que pertença ao irmão muçulmano é lícito para outro muçulmano, a menos que seja dado livremente e de boa vontade. Portanto, não praticai a injustiça entre vocês.

Lembrai-vos de que um dia vós estareis diante de Deus e respondereis por vossos atos. Portanto, cuidado, não vos desvieis do caminho da justiça depois que eu tiver partido.

Ó gentes, nenhum profeta ou apóstolo virá depois de mim e nem surgirá uma nova fé. Raciocinai bem e compreendei as palavras que vos estou transmitindo. Deixo-vos duas coisas, o Alcorão e o meu exemplo, as sunnas, e se seguirdes esses dois, jamais vos desviareis.

Todos que me ouvem deverão difundir minhas palavras para os outros, e estes para outros, e assim por diante, e que o último que as ouvir possa compreender minhas palavras melhor do que aqueles que agora me ouvem diretamente. Sede minha testemunha, ó Deus, de que eu transmiti Vossa mensagem ao Vosso povo."


O PACTO DE HUDAIBIYA

No ano de 628 d.C, o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), levou uma grande comitiva de muçulmanos a Makka para o Hajj (peregrinação).

Os habitantes de Makkah não estavam mais dispostos à luta, a barreira que os muçulmanos haviam imposto sobre todas as caravanas de Makkah havia arruinado sua economia, no entanto, eles se sentiam inseguros com essa leva de muçulmanos liderados pelo Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele).

Principalmente porque muitos estavam armados, o que não era de se estranhar, uma vez que os árabes sempre andavam armados, mas os cidadãos de Makkah ficaram alarmados e se recusaram a permitir que os limites sagrados fossem ultrapassados por tão grande quantidade de gente e, ainda por cima armados.

Após muitas conversações, eles concordaram com uma trégua e um pacto foi firmado entre o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), e os líderes de Makkah, que se chamou Pacto de Hudaibiya.

A assinatura desse acordo foi considerada uma grande vitória para o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), porque Makkah acabou aceitando a maior parte dos termos propostos pelo Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele).

De acordo com o pacto, eles concordavam com o direito do Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), de pregar e converter os árabes ao Islam, onde quer que eles estivessem, permitiram que o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), e seus seguidores entrassem em Makkah por ocasião do Hajj anual.

O Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), em contrapartida, prometeu a eles trânsito seguro, extradição de seus fugitivos e o cumprimento de todas as condições que eles desejassem.

Assim, foi assinado o acordo de Hudaibiyah, nos subúrbios de Makkah, que previa, ainda, a manutenção da paz e a observância de neutralidade nos conflitos com terceiros.

A trégua seria para durar 10 anos, após esse pacto, os árabes começaram a aceitar o Islam, um dos mais famosos convertidos foi Khalid ibn al-Walid, o futuro general muçulmano que ficou famoso por suas inúmeras vitórias alcançadas em nome do Islam.


A BATALHA DE UHUD

A derrota de Badar foi uma mancha na honra dos habitantes de Makkah, da qual se envergonhavam profundamente, assim, no ano seguinte, eles atacaram Madina com uma força maior, em torno de 3.000 homens, os muçulmanos contavam com apenas 700 homens.

O Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), percebendo a gravidade do momento, deu instruções rigorosas a seus seguidores, elaborou um plano de ataque e defesa, ordenando que eles se mantivessem em suas posições e não arredassem pé senão sob ordens expressas.

Mas, os muçulmanos inexperientes, no calor da batalha, esqueceram-se dessas instruções, começaram a lutar sem qualquer planejamento e depois de acharem que tinham derrotado o inimigo se puseram em campo aberto, sem se certificarem de que o inimigo tinha sido realmente derrotado.

O resultado foi que a retaguarda inimiga, chefiada pelo brilhante comandante Khalid inb al-Walid, surpreendeu-os e eles se espalharam, o próprio ProfetaMuhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), foi ferido e caiu.

Um grito ecoou "O Profeta está morto", isso arrefeceu mais ainda o ânimo dos muçulmanos e muitos deles fugiram, a batalha de Uhud terminou com uma derrota e com os muçulmanos de Madina envergonhados perante seu Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele).

Mas, o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), não era um homem comum; ele reuniu seus homens, fez uma palestra, repreendeu-os por causa de sua loucura, exortou-os a obedecerem às suas ordens no futuro, e os guiou para enfrentar o inimigo mais uma vez. 

O Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), chegou com seus companheiros às primeiras horas da manhã seguinte, armou seu acampamento de forma que pudesse ser visto por eles e lhes ordenou que fizessem um grande incêndio.

A idéia era mostrar ao inimigo que os muçulmanos não tinham perdido a coragem, quando o dia amanheceu, o inimigo viu os muçulmanos na retaguarda, sem medo, fazendo suas tarefas matinais, e ficaram muito impressonados, assim, o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), transformou a derrota em vitória.

A BATALHA DE BADR

A batalha de Badr foi a mais importante de todas as batalhas islâmicas e a menos expressiva em números pela primeira vez, os seguidores da nova fé eram postos à prova, se o resultado desse acontecimento tivesse sido outro, isto é, se a vitória tivesse sido das forças inimigas, talvez a fé do Islam tivesse chegado ao fim.

Ninguém tinha mais consciência da importância do resultado da batalha do que o próprio Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), podemos erceber a profundidade de seu fervor na prece dirigida a Deus antes do início dos combates:

"Ó Deus, eis os coraixitas. Chegaram com toda a sua arrogância e jactância, tentando desacreditar Teu apóstolo. Ó Deus, desacredita-os amanhã. Ó Deus, se este bando de muçulmanos perecer hoje, Tu não serás adorado".

Os habitantes de Makkah eram fortes e orgulhosos de sua riqueza e posição, para lutar contra eles, era preciso ter-se uma estratégia, o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), decidiu, então, atacar na raiz dessas duas coisas, a riqueza deles dependia do comércio com a Síria, no litoral mediterrâneo, portanto, o caminho para a Síria precisava ser cortado, por outro lado, eles se consideravam os melhores em tudo, dentre todos os árabes, assim, era preciso mostrar-lhes que estavam errados.

O Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), mandou uma pequena patrulha de muçulmanos com a ordem de que a próxima caravana para Makkah, que obviamente era escoltada por guarda-costas, fosse atacada.

Acontece que a caravana era chefiada por Abu Sufyan, o arqui-inimigo do Islam, embora a caravana tivesse uma guarda forte, Abu Sufyan percebeu o perigo e despachou uma mensagem para Makkah pedindo ajuda.

Enquanto isso, os muçulmanos chegaram sob a liderança do Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele). Eles eram apenas 300 soldados, enquanto que as forças inimigas se contavam em 1000.

Quando os combates estavam mais renhidos, o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), pegou um punhado de cascalho e atirou no rosto dos pagãos dizendo:

"Que suas faces fiquem desfiguradas. Deus, amendronte seus corações e imobilize seus pés."

Os pagãos fugiram sem olhar para ninguém, os muçulmanos continuaram lutando e fazendo prisioneiros, nestes combates, 70 pagãos morreram e os muçulmanos fizeram 70 reféns, o Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), mostrou grande diplomacia e perspicácia, rejeitou os conselhos de vingança e tomou os prisioneiros como reféns, tratando-os bem.

Certamente esses são números pequenos mas, mesmo assim, uma das mais decisivas batalhas foi travada em Badr, no ano de 623d.C, o segundo ano da Hégira.

Os muçulmanos, inspirados pela fé, não duvidaram por um instante sequer de que venceriam, varreram o inimigo do campo e foi uma grande vitória, esta batalha estabeleceu a fundação do estado islâmico e transformou os muçulmanos numa força respeitada pelos habitantes da península arábica.


MUHAMMAD O MENSAGEIRO DE DEUS FINAL

A Luta Contra a Intolerância e a Descrença

Não satisfeitos com a expulsão dos compatriotas muçulmanos, os habitantes de Makkah enviaram um ultimato aos de Madina, exigindo a entrega ou pelo menos a expulsão do Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), e dos seus companheiros, mas evidentemente todos esses esforços foram em vão, alguns meses mais tarde, no ano 2 da Hégira, eles enviaram um exército para combater o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), que os enfrentou no que ficou conhecido como a A Batalha de Badr.

Os idólatras de Makkah sendo três vezes mais numeroso do que os muçulmanos, mesmo assim os idólatras de Makkah foram derrotados.

Depois de mais de um ano de preparativos, os idólatras de Makkah, novamente tentaram invadir Madina, para vingar a derrota de Badr, desta vez, eram quatro vezes mais numerosos do que os muçulmanos, após uma batalha sangrenta, em Uhud, que ficou conhecido como a, A Batalha de Uhud.

Os idólatras se retiraram, não tendo o encontro sido decisivo, os mercenários não queriam arriscar demasiadamente, nem expor as suas vidas.

Nesse meio tempo os cidadãos judeus de Madina começaram a criar problemas, na época da vitória de Badr, um de seus líderes Ka'b Ibn Al Achraf, seguiu para Makkah, para firmar a sua aliança com os idólatras de Makkah e para incitá-los a uma guerra de vingança.

Após a batalha de Uhud, a tribo desse mesmo chefe tramou o assassinato do Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), pretendendo jogar sobre ele uma pedra de moinho, quando fosse visitar a sua localidade, apesar disso tudo, a exigência que o profeta fez aos homens dessa tribo foi a de que saíssem da região de Madina, levando com eles todas as suas posses, após venderem os imóveis e receberem o que lhes devessem os muçulmanos.

A clemência, demonstrada dessa maneira surtiu efeito contrário ao esperado, os exilados, não somente entraram em contato com os idólatras de Makkah, como com as tribos ao Norte, Sul e Leste de Madina, mobilizando-se em ajuda militar e planejando uma invasão de Madina, a partir de Khaibar, com forças quatro vezes mais numerosos ainda, do que as que foram empregadas em Uhud.

Os muçulmanos prepararam-se para enfrentar um cerco e cavaram um fosso, para se defender do que previam ser a maior provação que teriam que enfrentar, mas a deserção dos judeus, que ainda permaneciam dentro de Madina, numa etapa posterior, transtornou toda a estratégia, porém usando uma diplomacia sagaz, o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), conseguiu desarvorar a aliança inimiga e os diversos grupos retiraram-se, um após o outro.

Foi nessa época que foi decretada a proibição, para muçulmanos, do consumo de bebidas alcoólicas e das apostas dos jogos de azar.

A Reconciliação

O Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), tentou ainda, mais uma vez, reconciliar-se com os habitantes de Makkah, a obstrução da rota do Norte, das suas caravanas, havia arruinado a sua economia, o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), prometeu-lhes trânsito livre, a extradição dos seus fugitivos e o atendimento de todas as condições que eles impuseram, concordando até voltar a Madina, sem completar a peregrinação à Kaaba, em vista disso, ambas as partes negociadoras prometeram, em Hudaibiya, não só a preservação da paz, mas também a observância da neutralidade, nos seus conflitos com terceiros, este pacto ficou conhecido como O Pacto De Hudaibiya

Aproveitando a paz o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), se lançou a um intensivo programa de propagação da sua religião, ele enviou cartas missionárias aos governantes de Bizâncio, do Irã, da Abissínia e de outros países, o sacerdote autocrático Bizantino, Doughatir dos Árabes, abraçou o Islam, mas por isso, foi linchado pela turba; o prefeito de Ma'an na Palestina sofreu idêntico destino, sendo decapitado e crucificado pelo imperador.

Um embaixador muçulmano foi assassinado na Síria Palestina; e ao invés de punir o culpado, o imperador Heráclito apressou-se a protêge-lo, com o seu exército, da expedição punitiva, enviada pelo Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) que ficou conhecido como a Batalha de Mu'ta.

O idólatras de Makkah, esperando aproveitar-se das dificuldades dos muçulmanos violaram os termos do tratado, diante disso, o próprio Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), liderou um exército de dez mil homens, tomando Makkah de surpresa e sem derramamento de sangue.

Como conquistador benevolente, reuniu os vencidos, lembrou-lhes os seus atos pecaminosos, a perseguição religiosa, o confisco injusto das propriedades dos imigrantes, as repetidas invasões e a hostilidade insensata e contínua dos últimos vinte anos.

Perguntou-lhes: '' Agora, o que esperam de mim ?''

Quando todos baixaram as cabeças, envergonhados, o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), proclamou:'' Que Deus os perdoe; vão em paz; não serão chamados à responsabilidade hoje; estão livres !''

Ele inclusive renunciou `a reivindicação das propriedades muçulmanas confiscadas pelos idólatras de Makkah, isso produziu uma grande reviravolta psicológica de ânimos, quando um chefe, dentre eles, se adiantou com o coração transbordante de alegria, após Ter ouvido essa anistia geral, e decidido declarar a sua aceitação do Islam, disse-lhe o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele):

''E, por minha vez, nomei-o governador de Makkah !''

Sem deixar um ínico soldado na cidade conquistada, o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), retirou-se para Madina, a Islamização de Makka, realizada em poucas horas, foi completa.

Imediatamente após a ocupação de Makka, a cidade de Ta'if, mobilizou-se para lutar contra o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), com alguma dificuldade, o inimigo foi dispersado, no vale de Hunain, mas mesmo assim, os muçulmanos preferiram levantar o sítio de Ta'if e usar meios pacíficos para quebrar a resistência dessa região.

Menos de um ano depois, uma delegação de Ta'if veio a Madina, oferecer a sua rendição, porém pedia isenção das orações, dos impostos e do serviço militar, bem como a continuação das práticas do adultério da fornicação e do consumo de bebidas alcoólicas, exigiam até que lhes deixassem conservar o templo do ídolo al Lat, em Ta'íf.

Mas o Islam não era um movimento materialista e imoral, e a delegação não tardou a envergonhar-se das suas exigências, o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), concordou em conceder uma isenção dos impostos e da prestação de serviços militares, dizendo:

''Vocês não precisam demolir o templo com as suas próprias mãos; mandaremos gente nossa para essa tarefa, e caso haja alguma conseqüência das quais vocês temem, devido as suas superstição, ela recairá sobre os nossos homens.''

Este ato do Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), mostra bem que concessões podiam ser feitas aos novos convertidos, a conversão dos habitantes de Ta'if foi tão sincera que em pouco tempo, eles próprios renunciaram às isenções pactuadas com o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele).

Em todas essas guerras que se estenderam por um período de dez anos, os não muçulmanos perderam no campo de batalha não mais do que 520 homens, enquanto as perdas dos muçulmanos foram ainda menores.

Com essas poucas incisões, toda a Península Arábica, com os seus dois milhões de quilômetros quadrados, se viu curado do abcesso da anarquia e da imoralidade, durante esses dez anos de lutas desinteressadas, todos os povos da Península Arábica e das regiões vizinhas ao sul do Iraque e da Palestina haviam abraçado voluntariamente o Islam.

Alguns grupos cristãos, judaicos e masdeístas permaneceram ligados às suas crenças, e a estes foi concedida a liberdade de consciência religiosa, assim como a autonomia judicial e jurídica.

No ano 10 Da Hégira, quando o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) foi a Makkah em peregrinação encontrou lá 140.000 muçulmanos, vindos das mais diversas regiões da Arábia, para cumprir a sua obrigação religiosa, que ficou conhecida como a Peregrinação da Despedida.

Pronunciou para eles o que se tornou o seu célebre sermão, no qual resumiu os seus ensinamentos:

''A crença no Deus Único, sem imagens ou símbolos, a igualdade de todos os fiéis, sem distinção de raça ou classe, a superioridade dos indivíduos derivando unicamente da devoção, a santidade da vida, da propriedade e da honra, a abolição da usura, das vinganças e da justiça particular; o tratamento melhor para as mulheres, a noção da possibilidade de acumulação de riquezas, a distribuição obrigatória, dos bens dos falecidos entre os seus parentes mais próximos de ambos os sexos, e não a concentração das mesmas nas mãos de uns poucos, o Alcorão e a conduta do Profeta Muhammad (que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), deveriam servir de fundamento à lei de critérios sadios para todos os aspectos da vida humana.''

Ao voltar para Madina, o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), caiu doente; e algumas semanas mais tarde, quando exalou o seu último suspiro, o fez com a satisfação de que havia cumprido a altura a tarefa que tinha empreendido; a de pregar ao mundo a mensagem de Deus, o Islam.

Ele legou toda a posteridade uma religião de puro monoteísmo; criou um estado disciplinado, a partir do caos que existia e trouxe a paz, para substituir a guerra de todos contra todos; estabeleceu um equilíbrio harmônico entre os assuntos espirituais e os temporais, entre a Mesquita e a cidade; deixou um novo sistema de leis, que distribuiu a justiça imparcial, à qual até o chefe de estado estava tão sujeito quanto qualquer plebeu, e na qual a tolerância religiosa era tanta, que os habitantes não muçulmanos dos países muçulmanos, desfrutavam igualmente de total autonomia judicial e cultural.

Em matéria de receitas dos Estado, estabeleceu os princípios orçamentários e se preocupou mais com os pobres do que com os demais, as receitas foram ressalvadas terminantemente, de vira ser transformadas em propriedades particular do chefe de estado, acima de tudo, o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) deixou um exemplo nobre, pela prática integral de tudo o que ensinava aos outros.


MUHAMMAD O MENSAGEIRO DE DEUS 3ª PARTE

A Missão

O Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), começou anunciar a sua missão, primeiro secretamente entre seus amigos mais íntimos, depois entre os membros da sua própria tribo e dai por diante publicamente, pela cidade e pelos seus subúrbios, ele insistiu na crença no Deus Único e Transcendente, na ressurreição e no Juízo Final, conclamou os homens a caridade e a benevolência, e tomou as providencias necessárias para preservar, por escrito as revelações que estava recebendo, ordenando aos seus partidários que também as decorassem, e isto continuou durante todo o resto de sua vida, uma vez que o Alcorão Sagrado não foi revelado todo de uma só vez, mas em fragmentos, conforme surgia a ocasião para tal.

O número dos seus seguidores aumentou gradativamente; mas diante da denuncia do paganismo, a oposição também se tornou intensa, por parte daqueles que estavam firmemente ligados às suas crenças ancestrais, essa oposição degenerou, ao longo do tempo, na perseguição e na tortura física do Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), e daqueles que haviam abraçado o Islam.

Estes eram estirados sobre a areia escaldante, cauterizados com feros em brasa e presos com correntes nos pés, alguns deles morreram em conseqüência da tortura, mas nenhum renunciou ao Islam, em desespero, o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), aconselhou os seus seguidores a deixarem a sua cidade de origem e a se refugiarem no exterior, na Abissínia, ''onde governa um rei justo, em cujo reino ninguém é oprimido''.

Dezenas de muçulmanos se beneficiaram desse conselho, mas não todos, essas fugas em segredo incitaram uma perseguição maior, por parte dos senhores de Makkah, à aqueles que ficaram para trás.

O Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), denominou a sua religião de ISLAM, isto é ; submissão à vontade de Deus.

As características que a distinguem são duas:

1º- O equilíbrio harmônico entre as coisas temporais e espirituais (o corpo e alma), que permite desfrutar por inteiro, de todas as graças criadas por Deus, prescrevendo ao mesmo tempo, para todo, deveres para com Deus, o Islam veio para ser a religião das massas e não apenas de uns poucos eleitos.

2º- A universalidade do chamamento, para que todos os crentes se tornem irmãos e iguais, sem qualquer distinção de classe, raça ou idioma, a única superioridade que ela admite é exclusivamente pessoal, baseada no maior temor a Deus e na maior devoção.

Boicote Social

Quando um grande número de muçulmanos de Makkah emigrou para a Abissínia, os líderes do paganismo deram um ultimato à tribo do Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), exigindo que ele fosse excomungado, declarado fora da lei, e entregue aos pagãos, para ser morto, todos os membros da tribo, muçulmanos ou não, rejeitaram a exigência.

Em conseqüência dessa recusa, a cidade decidiu impor um boicote total a tribo do Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele); ninguém poderia falar, manter relações comerciais ou matrimoniais com os seus membros, as tribos que habitavam o subúrbio, que eram aliados dos senhores de Makkah, também aderiram ao boicote, causando uma grande miséria entre as vítimas inocentes, crianças, homens e mulheres, velhos doentes e fracos.

Alguns sucumbiram, mas ninguém concordou em entregar o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) aos seus perseguidores, após três anos, quatro ou cinco que não eram muçulmanos, porém mais humanos que os demais e pertencendo a clãs diferentes, proclamaram o seu repúdio ao injusto boicote.

Ao mesmo tempo o documento promulgando o pacto do boicote, que havia sido exposto no templo, foi encontrado, como havia sido profetizado pelo Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), roído por formigas brancas, até que não lhe sobraram senão as palavras; ''Deus'' e ''Muhammad'', o boicote foi suspenso, mas devido às privações por que tivera que passar, a esposa e o tio do Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), faleceram em seguida, outro tio do Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), Abu Lahab que era inimigo declarado do Islam e do Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), assumiu então a chefia da tribo.

A Ascensão

Foi por esse tempo que o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) teve concedida a ascensão (Mi'raj), ele se viu numa visão, sendo recebido no céu por Deus, testemunhando as maravilhas das regiões celestiais, ao voltar trouxe para a sua comunidade, como dádiva Divina, o culto Islâmico, que se constitui em uma espécie comunhão entre o homem e Deus.

A notícia desse contato celestial levou a um endurecimento ainda maior da hostilidade por parte dos pagãos de Makkah, o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), foi obrigado a deixar a sua cidade natal, em busca de asilo em outro lugar, ele procurou os seus tios maternos em Ta'if, mas voltou imediatamente a Makkah, pois as pessoas que habitavam aquele lugar o perseguiram até os limites da cidade, atirando-lhe pedras e o ferindo gravemente.

A Migração Para Madina

A peregrinação anual à Kaaba trouxe a Makkah gente de todas as partes da Arábia, o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), tentou persuadir uma tribo após outra, a lhe conceder abrigo e permitir que continuasse com a sua missão de pregar o Islam para toda a humanidade.

Os contingentes de quinze tribos, que ele abordou sucessivamente, recusaram-se a fazê-lo de modo mais ou menos brutal, mesmo assim, ele não se desesperou, finalmente encontrou-se com meia dúzia de habitantes de Madina, os quais, sendo vizinhos dos judeus e dos cristãos, tinham alguma noção, das mensagens Divinas e dos Profetas.

Também sabiam que ''O Povo do Livro'' estavam esperando a chegada de um profeta, por isso os de Madina decidiram um passo a frente dos outros, e consequentemente abraçaram o Islam, prometendo aumentar o número de seguidores e proporcionar-lhes o apoio necessário em Madina.

No ano seguinte, uma dúzia de novos cidadãos de Madina fez o juramento da aliança, com o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), e pediu que ele lhes enviasse um mestre missionário, o trabalho desse missionário que se chamava Muss'ab, teve grande êxito e ele levou um contingente de setenta e três novos convertidos para Makkah, na época da peregrinação.

Estes convidaram o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), e os seus companheiros de Makkah a migrar para a sua cidade, prometendo abrigo para Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), e trata-lo a ele e a seus companheiros como se fossem seus próprios parentes, secretamente e em pequenos grupos a maioria dos muçulmanos migrou para Madina, diante disso os pagãos de Makkah não somente confiscaram as propriedades dos migrantes, como também armaram um plano para assassinar o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele).

Com isto, tornava-se, agora, impossível , para ele, permanecer em sua casa, deve-se notar que a despeito da hostilidade para com a missão do Profeta Muhammadque a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), os pagãos de Makkah continuaram a Ter confiança sem limites na probidade do Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) tanto assim que muitos deles costumavam deixar as suas finanças guardadas com ele.

O Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), então, confiou esse depósitos a um primo, que se chamava Ali, com instruções para devolvê-los, oportunamente, aos proprietários de direito.

Deixou a seguir secretamente a cidade em companhia do seu fiel amigo Abu Bakr, depois de algumas aventuras, eles conseguiram chegar em Madina em segurança, e isto aconteceu no ano 622, no qual começa o calendário da Hégira.

A Reorganização da Comunidade

Para melhor reabilitação dos migrantes deslocados, o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), criou uma irmandade entre eles e um número igual de habitantes de Madina abastados, as famílias de cada par de irmãos contratuais trabalhavam juntas para ganhar o sustento, e eles ajudavam-se uns aos outros na vida comercial.

Além disso, ele pensava que a evolução do homem, como um todo, seria melhor conseguida, se ele coordenasse a religião e a política, como duas partes constituintes do mesmo todo, com esse fim, convidou representantes, dentre os muçulmanos, como também representantes dentre os não muçulmanos da região; pagãos, judeus, cristãos e outros, e sugeriu uma fundação de uma cidade-estado em Madina.

Com o consentimento deles, ele dotou a cidade de uma constituição escrita, a primeira do gênero no mundo, na qual definiu os deveres e os direitos, tanto dos cidadãos, como de chefe de estado.

O Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), foi proclamado como tal, por uma unanimidade, e aboliu a habitual justiça particular, o cumprimento dos termos desse documento tornou-se dai em diante, a principal preocupação da organização central dessa comunidade de cidadãos.

Esse sistema estabeleceu os princípios de defesa e de política externa e organizou um sistema de seguro social, para casos de obrigações extremamente onerosas, ele reconhecia que o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), teria a ultima palavra em todas as divergências, e que não havia limites ao seu poder de legislar.

Reconhecia também, explicitamente a liberdade de religião, especialmente para os judeus, a quem o ato constitucional conferia igualdade com os muçulmanos, em tudo o que se relacionava com a vida neste mundo.

O Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), empreendeu diversas jornadas, com vistas a persuadir as tribos vizinhas e a estabelecer, com elas, tratados de aliança e de ajuda mútua.

Com a ajuda destas tribos, ele decidiu exercer uma pressão econômica sobre os pagãos de Makkah, que haviam confiscado as propriedades dos muçulmanos retirantes, e também causado incontáveis prejuízos, a obstrução do caminho das caravanas de Makkah e o impedimento da sua passagem pela região de Madina, deixou os pagãos de Makka desesperados, ensejando uma luta sangrenta.

Ao se preocupar, o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), com os interesses materiais da comunidade, não foi negligenciado o aspecto espiritual, mal passara um ano, desde a migração para Madina, quando a mais rigorosa das disciplinas espirituais, o jejum de um mês inteiro, todo os anos, no mês de Ramadan, foi imposto a todo homem e mulher, muçulmano.


MUHAMMAD O MENSAGEIRO DE DEUS 2ª PARTE

A Sociedade

A despeito da relativa, pobreza de recursos naturais, Makkah era o mais desenvolvido, dos três núcleos do triângulo, dos três, somente Makkah se constituíra em cidade-estado, sendo governada por um conselho de dez chefes hereditários, que desfrutavam de uma nítida divisão de poderes.

Gozando de boa reputação como caravaneiros os nativos de Makkah conseguiam obter permissão dos impérios vizinhos, bem como firmar tratados com as tribos que habitavam as rotas usadas por tais caravanas, para transitar por seus territórios e negociar, no comércio de importação e exportação. Eles também proporcionavam escolta para os estrangeiros que passassem pelo seu país, bem como pelos territórios das tribos que eram suas aliadas da Arábia.

Apesar de não estarem muito interessados em preservar idéias e registros escritos, cultivavam apaixonadamente as artes e as letras, como a poesia, a oratória e histórias folclóricas.

O Nascimento do Profeta Muhammad

Foi nesse meio ambiente e nessas condições de vida que no ano 570, nasceu o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), seu pai, Abdullah, havia falecido algumas semanas antes, e foi seu avô que se encarregou de criá-lo, de acordo com os costumes da época, a criança foi confiada aos cuidados de uma ama de leite beduína, com quem passou alguns anos no deserto.

Todos os seus biógrafos afirmam que o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), quando infante mamou somente de um seio da sua ama, deixando o outro para o sustento do seu meio-irmão, quando a criança foi trazida de volta ao lar, sua Amina, levou-a aos seus tios maternos, na cidade de Madina.

Durante a viagem de retorno, ele perdeu a mãe, que sucumbiu de morte repentina, em Makkah, outra desolação o aguardava, o falecimento do seu afetuoso avô, submetido a tais privações aos oito anos de idade, ele se viu finalmente entregue aos cuidados do seu tio, Abu Talib, um homem generoso por natureza, mas cujos recursos estavam sempre aquém até das necessidades da sua própria família.

O jovem Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), se viu portanto, diante da necessidade de procurar imediatamente um meio de ganhar a vida; serviu, inicialmente, como menino pastor para alguns vizinhos.

Com Dez anos, acompanhou o seu tio a Síria, quando este levou uma caravana para lá, não se mencionam quaisquer outras viagens de Abu Talib, mas existem referências de que ele teria aberto um negócio em Makkah, e é possível que Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), o tenha ajudado também nesse empreendimento.

Aos vinte e cinco anos de idade, Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), havia-se tornado bem conhecido na cidade, por sua integridade, disposição e honestidade de caráter, uma viúva rica, Khadija era seu nome, ela o contratou a seu serviço e determinou-lhe que levasse as suas mercadorias, para vendê-las na Síria.

Feliz com os lucros incomuns que ele obteve, bem como encantada com o carisma pessoal do seu agente, ela ofereceu-lhe a sua mão, diz-se que na época ela tinha quarenta anos de idade, a união foi feliz, mais tarde, vêmo-lo às vezes na feira de Hubacha (no Iêmen), e pelo menos uma vez no país dos Abd Al Kais (Bahrain e Omã), como foi mencionado por Ibn Hanbal.

Há motivos para acreditar que esta referência diz respeito ao grande mercado de Dabá (Omã) onde, de acordo com Ibn Al Kalbi, se reuniam, todos os anos, os mercadores da China, do Hindi e Sind (Índia e Paquistão), da Pérsia, do Oriente.

Um sócio comercial de Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), em Makkah, de nome Sa'ib relata: ''Revezávamos um ao outro; se Muhammad liderava a caravana, não ia para casa, ao retornar, sem antes acertar as contas comigo, e se era eu que liderava a caravana, quando voltava, ele perguntava sobre o meu bem estar, sem nada dizer do capital que me estava confiado.''

Início da Conscientização Religiosa

Pouco se sabe sobre os hábitos religiosos de Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), até seus trinta e cinco anos de idade, exceto que ele jamais adorou ídolos, está afirmação é consubstanciada pelos seu biógrafos, pode se afirmar que havia alguns outros poucos em Makkah que do mesmo modo, haviam se revoltado contra a prática insensata do paganismo apesar de manterem a sua fidelidade a Kaaba, como a casa dedicada ao Deus Único, por seu construtor Abraão (que a Paz esteja sobre ele).

Aproximadamente no 605 da era cristã, os panos que cobriam a parede externa da Kaaba se incendiaram, o edifício foi afetado e não suportou o peso das chuvas torrenciais, que se seguiram, a reconstrução da Kaaba foi então, empreendida, cada cidadão contribuiu, de acordo com as suas posses; e só era aceitas doações, provenientes de ganhos honestos.

Todos participaram do trabalho de reconstrução, e os ombros de Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), ficaram feridos, de tanto carregar pedras, para identificar o local onde se inicia o ritual de circungi-la, aonde foi colocada a pedra negra, na parede da Kaaba que datava da época do próprio Abraão.

Houve rivalidade entre os cidadãos pela honra de recolocar a pedra em seu lugar, ao surgir o de correr sangue, alguém sugeriu que se deixasse o assunto por conta da Providência, e assim, se aceitasse o arbítrio daquele que ali chegar primeiro.

Aconteceu que naquela Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) chegava para ajudar no trabalho, como era normal, ele era popularmente conhecido pela alcunha de al Amin (o honesto), e todos aceitaram o seu arbítrio. Sem hesitar, Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele) ele pediu um manto e colocou no chão, colocou a pedra sobre ele e pediu aos chefes de todas as tribos da cidade para juntos levantarem o manto, feito isto ele próprio colocou a pedra no seu lugar certo, em um dos cantos do edifício, ficando assim todos satisfeitos, eliminando assim a disputa.

É desse momento em diante que encontramos Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), cada vez mais absorvido em meditações espirituais, como seu avô ele também costumava se retirar, durante o mês inteiro de Ramadan, para uma caverna em ''Jabal an Nur'' (a montanha da luz), essa caverna é chamada de Ghári Hirá, ali ele orava, meditava e compartilhava as suas parcas provisões com os viajantes, que por ali viessem a passar.

A Revelação

Estava ele com quarenta anos de idade, e era o quinto ano consecutivo que iniciará os seus retiros anuais, quando, certa noite, próximo ao final do mês de Ramadan, um anjo veio visitá-lo, e anunciar que Deus o havia escolhido, como seu Mensageiro para toda a humanidade, e comunicou-lhe a seguinte mensagem Divina:

'' Lê, em nome do teu Senhor Que criou; Criou o homem de algo que se agarra. Lê, que o teu Senhor é Generosíssimo, Que ensinou através do cálamo, Ensinou ao homem o que este não sabia.'' (Alcorão Sagrado 96:1 ao 5)

Profundamente comovido, ele voltou para casa e contou o acontecido à sua esposa, expressando o seu temor de que pudesse Ter sido algo diabólico, ou feito por ação de espíritos malignos, ela o consolou, dizendo que ele sempre fora um homem caridoso e generoso, que sempre ajudou os pobres, os órfãos, as viúvas e os necessitados, e assegurou-lhe que Deus o protegeria conte todo o mal.

Sobreveio, então, um lapso na revelação que duraria mais três anos, o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), deve ter sentido inicialmente um choque seguido por uma calmaria, um desejo ardente, e após um certo tempo de expectativa, uma crescente impaciência, as novas da sua primeira visão haviam-se espalhado e, diante do lapso, os cépticos da cidade começaram a escarnecer dele e a contar piadas maldosas, chegaram ao ponto de dizer que Deus o havia abandonado.

Durante três anos de espera, o Profeta Muhammad(que a Paz e a Bênção de Deus estejam sobre ele), se entregara mais e mais às orações e a outros hábitos espirituais, finalmente reiniciaram-se as revelações e Deus assegurou-lhe que de modo algum o havia abandonado; pelo contrário, fora Ele quem o guiara no caminho reto; que portanto ele deveria cuidar dos órfãos e dos desamparados, e proclamar a generosidade que Deus tivera para com ele.

'' Pelas horas da manhã, E pela noite, quando é serena, Que o teu Senhor não te abandonou, nem te odiou. E sem dúvida que a outra vida será melhor, para ti, do que a presente. Logo o teu Senhor te agraciará, de um modo que te satisfaça. Porventura, não te encontrou órgão e te amparou? Não te encontrou extraviado e te encaminhou? Não te achou necessitado e te enriqueceu? Portanto, não maltrates o órfão, Nem tampouco repudies o mendigo, Mas divulga a mercê do teu Senhor, em teu discurso.'' (Alcorão Sagrado 93:1 ao 11)

Na verdade esta foi uma ordem para pregar, outra revelação, mandou-o alertar as pessoas contra as práticas ilícitas, exortá-las a não louvar nenhuma outra divindade, além do Deus Único, e a abandonar tudo o que desagradasse a Deus.

'' Ó tu, emantado! Levante-te e admoesta! E enaltece o teu Senhor! E purifica as tuas vestimentas! E foge da abominação! E não esperes qualquer aumento (em teu interesse), Mas persevera, pela causa do teu Senhor.'' (Alcorão Sagrado 74:2 ao 7)

Ainda outra revelação ordenou-lhe avisar aos seus próprios parentes mais próximos.

'' E admoesta os teus parentes mais próximos. '' (Alcorão Sagrado 24:214)

'' Proclama, pois, o que te tem sido ordenado e afasta-te do idólatras.'' (Alcorão Sagrado 15:94)